quinta-feira, 16 de julho de 2020

Colombiano que ama o Brasil


                          



 Histórias do Tio Edson     






           

COLOMBIANO DECLARA AMOR AO BRASIL

Na década de quarenta do século passado, meus irmãos Edson e Jurandir faziam viagens anuais, quase sempre juntos na mesma lancha-rebocadora, até os altos Rios,  Purus,  Solimões, Madeira e Juruá.  Ao subir com destino aos altos dos rios, vendiam algumas mercadorias e compravam madeiras que, na volta, iam reunindo as toras adquiridas nos vários portos, formando


                                    grandes jangadas    



destinadas à Serraria do industrial  Araujo Costa,  em Itacoatiara.
   
Muitas histórias eram contadas pelo mano Edson que, reunidas, comporiam facilmente um livro. Proponho resgatar algumas delas, mesmo sem alcançar a graça e o encanto de como ele nos contava.  Acompanhem esta:   Numa dessas viagens, que duravam de 4 a 6 meses, Edson foi sem a companhia do irmão e fez uma parada na cidade de Tabatinga, localizada no meio da maior floresta tropical do planeta, a selva amazônica, à margem esquerda do Rio Solimões fazendo fronteira com a Colômbia.  Tabatinga é praticamente interligada à cidade Colombiana de Letícia e próxima da Ilha Santa Rosa, no Peru, formando uma tríplice fronteira.  O comércio, entre Tabatinga e Letícia, é praticado por brasileiros e colombianos que transitam fácil e diariamente entre as duas cidades, separadas apenas por uma rua onde estão situados Postos Fiscais.  Por volta de onze horas da manhã, estavam a bordo apenas o Edson e um tripulante. Os demais tinham ido à cidade fazer compras inclusive de mantimentos para viagem de retorno.  Nisso, começaram a chegar alguns interessados em adquirir novidades da lojinha improvisada com prateleiras, num pequeno espaço da embarcação.  Entre esses compradores, um colombiano de meia idade, fez uma pequena compra e se interessou em adquirir um litro de álcool que viu um pouco afastado da lojinha.   Edson explicou que não podia vender, porque o litro já estava aberto e era para uso a bordo.  Esse senhor se apresentou como Juan, dizendo-se muito conhecido  e estimado,  por ser um homem sério e o único sapateiro na cidade.  Com voz embargada quase inaudível, solicitou ao Edson:  Com tu permiso, al menos me pudes dar um poco de alcohol?    Mi esposa está muy enferma con gripe y  mucha fiebre.   Edson, embora fosse do tipo brincalhão,  sempre foi muito solidário nessas horas.  Deu-lhe uns dois dedos de álcool num copo descartável  . Muchas gracias por tu amabilidade,  disse Juan  ao  retirar-se,  para subir  a ribanceira, rumo à cidade.  Uns 20 minutos depois, volta o cidadão, lamentando :  Mr. Mendonça,  lo siento pedir-te um poco más de alchool,  me ocorrió um acidente  cuando subi la cuesta, derramé uma gran parte de lo que me diste .  Mi esposa mostro uma ligera mejoria.   Compreendendo a situação, o barranco era realmente íngreme e escorregadio,  Edson cedeu um pouco mais, no mesmo copo descartável.  Uns trinta minutos depois, volta o homem, com ar tristonho e  submisso :  Se no te estoy molestando,  Mr. Mendonça, perdóname una vez más, pero solo necessito um poco más de alcohol para terminar el tratamiento de mi esposa.   O  Edson resolveu atender mais esse comovido apelo.  No tengo palabras para agradecerte por tanta generosidad de tu parte.  Passados mais uns  30 minutos,  lá vem de novo o colombiano, entrou eufórico na embarcação, deu um forte abraço no Edson, pegou a garrafa de álcool e, levantando-a como se fosse
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                                              um troféu,






   bradou entusiasmado:

  Que bello!   Alcohool de Pernambuco, 90 grados!  Felicidades! Mi esposa está casi curada! Viva el Braziiiiill !!  Amo a Braziiiiill que produce el meljor alcohol del mundo!,   Vine a abrazarte Mr. Mendonça,  y hacerte la última petición,  la última para que me querida esposa sea totalmente curada.
Pelo sacolejar dos fortes abraços , e por ter visto que a ribanceira ficara bastante sinuosa quando o Juan descera, não foi difícil o Edson perceber o grau, literalmente etílico, denunciado pelo bafo desse eufórico amante do Brasil. 
 
                             Em seguida Edson soube que, tanto em Letícia como em Tabatinga, há dias estava                                                    totalmente  proibida a venda de bebida alcoólica.