Histórias do Tio Edson
COLOMBIANO DECLARA AMOR AO BRASIL
Na década de
quarenta do século passado, meus irmãos Edson e Jurandir faziam viagens anuais,
quase sempre juntos na mesma lancha-rebocadora, até os altos Rios, Purus, Solimões, Madeira e Juruá. Ao subir com destino aos altos dos rios,
vendiam algumas mercadorias e compravam madeiras que, na
volta, iam reunindo as toras adquiridas nos vários portos, formando
grandes
jangadas
destinadas à Serraria do industrial
Araujo Costa, em Itacoatiara.
Muitas histórias
eram contadas pelo mano Edson que, reunidas, comporiam facilmente um livro.
Proponho resgatar algumas delas, mesmo sem alcançar a graça e o encanto de como
ele nos contava. Acompanhem esta: Numa dessas viagens, que duravam de 4 a 6
meses, Edson foi sem a companhia do irmão e fez uma parada na cidade de
Tabatinga, localizada no meio da maior
floresta tropical do planeta, a selva amazônica, à margem esquerda
do Rio Solimões fazendo fronteira com a Colômbia. Tabatinga é praticamente interligada à cidade
Colombiana de Letícia e próxima da Ilha Santa Rosa, no Peru, formando uma
tríplice fronteira. O comércio, entre
Tabatinga e Letícia, é praticado por brasileiros e colombianos que transitam fácil
e diariamente entre as duas cidades, separadas apenas por uma rua onde estão
situados Postos Fiscais. Por volta de
onze horas da manhã, estavam a bordo apenas o Edson e um tripulante. Os demais
tinham ido à cidade fazer compras inclusive de mantimentos para viagem de
retorno. Nisso, começaram a chegar
alguns interessados em adquirir novidades da lojinha improvisada com prateleiras,
num pequeno espaço da embarcação. Entre
esses compradores, um colombiano de meia idade, fez uma pequena compra e se
interessou em adquirir um litro de álcool que viu um pouco afastado da
lojinha. Edson explicou que não podia
vender, porque o litro já estava aberto e era para uso a bordo. Esse senhor se apresentou como Juan,
dizendo-se muito conhecido e estimado, por ser um homem sério e o único sapateiro na
cidade. Com voz embargada quase
inaudível, solicitou ao Edson: Com tu
permiso, al menos me pudes dar um poco de alcohol? Mi esposa está muy enferma con gripe y mucha fiebre. Edson, embora fosse do tipo
brincalhão, sempre foi muito solidário
nessas horas. Deu-lhe uns dois dedos de
álcool num copo descartável . Muchas
gracias por tu amabilidade, disse
Juan ao retirar-se, para subir
a ribanceira, rumo à cidade. Uns 20
minutos depois, volta o cidadão, lamentando :
Mr. Mendonça, lo siento
pedir-te um poco más de alchool, me
ocorrió um acidente cuando subi la
cuesta, derramé uma gran parte de lo que me diste . Mi esposa mostro uma ligera mejoria. Compreendendo a situação, o barranco era
realmente íngreme e escorregadio, Edson
cedeu um pouco mais, no mesmo copo descartável.
Uns trinta minutos depois, volta o homem, com ar tristonho e submisso :
Se no te estoy molestando, Mr.
Mendonça, perdóname una vez más, pero solo necessito um poco más de alcohol
para terminar el tratamiento de mi esposa.
O Edson resolveu atender mais
esse comovido apelo. No tengo
palabras para agradecerte por tanta generosidad de tu parte. Passados mais uns 30 minutos,
lá vem de novo o colombiano, entrou eufórico na embarcação, deu um forte
abraço no Edson, pegou a garrafa de álcool e, levantando-a como se fosse
]
um
troféu,
bradou entusiasmado:
Que bello! Alcohool de Pernambuco, 90 grados! Felicidades! Mi esposa está casi curada! Viva
el Braziiiiill !! Amo a Braziiiiill que produce
el meljor alcohol del mundo!, Vine a
abrazarte Mr. Mendonça, y hacerte la
última petición, la última para que me
querida esposa sea totalmente curada.
Pelo sacolejar
dos fortes abraços , e por ter visto que a ribanceira ficara bastante sinuosa quando
o Juan descera, não foi difícil o Edson perceber o grau, literalmente etílico, denunciado
pelo bafo desse eufórico amante do Brasil.


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