Edson sensibilizou o então Presidente Getúlio Vargas, em carta dramática falando dos horrores que ele passava, como amazonense perdido na grande cidade do Rio de Janeiro, diante de seu precário estado de saúde e da falta de dinheiro. Foi assim que conseguiu ser internado no Sanatório Oswaldo Cruz, vencendo a fila dos discriminados pelo IAPC , que dava preferência aos residentes no Rio. O SOC era um Sanatório de referência , seja pela especializada equipe médica, como pela boa estrutura hospitalar situada em local tido como ideal para tratamento de tuberculose, graças ao saudável clima, frio e seco, de Correas, distrito de Petrópolis. Em viagem de férias, de Manaus ao Rio, fui visita-lo. Mal cheguei ao pátio do hospital, repleto de pacientes e visitantes, o Edson me apresentou ao médico que o assistia. Este, prontamente interrompeu sua saída, convidando-me para ir ao seu consultório, no interior do Hospital. Em seguida, colocou um RX naquele aparelho de visualização e me disse: -- olhe bem para o estado desses pulmões. Ao perceber que eu nada distinguia, foi mostrando, com a ponta de uma caneta, os inúmeros pontinhos claros por toda a área pulmonar, esquerda e direita, e disse-me: -- está vendo? Verdadeira peneira! Com essa gravidade seu irmão foi aqui internado. Agora, acrescentou, vou lhe mostrar um caso inédito. Observe este outro RX. O pulmão direito, comentava: nenhum pontinho claro e o esquerdo com apenas um nódulo , que está me desafiando. Pois é, acrescentou, essa cura parcial, quase milagrosa, e em tempo recorde, é do seu irmão. Só tenho uma explicação, o humor dele, pois os demais pacientes se recuperam lentamente, tem gente internado aqui há mais de um ano, recebendo o mesmo tratamento de repouso rigoroso, higiene, forte alimentação e remédios adequados. Tenho pressa em sair, continuou, mas foi bom conhecê-lo, pois quero lhe pedir um grande favor: Convença seu irmão a moderar suas atividades aqui dentro. É muito bom que ele tenha transformado, em pouco tempo, o sóbrio e até triste ambiente deste Sanatório, para um convívio de muita alegria. Mas só ele se prejudica porque trabalha muito nas articulações e lideranças, não cumprindo as rigorosas horas de repouso. Ele já realizou festa junina, está planejando a de Natal, já fez teatro tendo os pacientes como atores e promoveu sessões de cinema, sempre cercado por um enorme fã clube, de pessoas que se deliciam com suas incríveis histórias. Receio até que esteja namorando, o que é proibido aqui tanto quanto o jogo de bicho que ele passou a coletar entre os amigos. Ele é envolvente, ganha a simpatia de todos, de pacientes, pessoal de apoio, corpo médico e de enfermagem. Para finalizar, espero contar com a sua ajuda: peça a seu irmão para ter juízo e reduza suas extravagâncias, agradáveis para todos menos pra ele, que precisa vencer esse ponto resistente, talvez pelo falta do repouso, repito, que ele sempre consegue burlar. Ao nos despedirmos, prometi colaborar. De volta ao pátio, eu vi realmente a alegria do Edson rodeado e procurado por inúmeros pacientes ou visitantes, como se fossem amigos de longa data. Mal conseguíamos conversar. Em dado momento, ele apanhou do chão um enorme besouro, com cerca de 10 cm. Arranjou uma caixinha, guardando-o cuidadosamente. Disfarçou como que escondendo até de mim. Soube mais tarde que, por volta de meia noite, no silêncio do hospital, Edson tocou a campainha chamando os enfermeiros, que sempre vinham em dupla, um baixinho e um negro muito alto e forte que se gabava de não ter medo de nada. Em seguida, o silêncio do hospital foi interrompido com o barulho da correria dos dois enfermeiros, descendo as escadas aos trambolhões, retornando ao posto de atendimento. O valentão, pálido e trêmulo, sentado em uma cadeira e com olhos esbugalhados, pedia água e mal conseguia explicar aos outros companheiros o que aconteceu. O outro enfermeiro, o pequeno paraíba, que não negava ser medroso, correra sem saber de nada, simplesmente solidário ao medo do valente companheiro. Aos poucos veio a explicação. É que ele se defrontou com uma luz que vinha lentamente em sua direção, andando pelo chão do imenso e escuro corredor e que continuava lá. Um funcionário valeu-se de uma lanterna e conseguiu desvendar a misteriosa assombração. Um enorme besouro caminhava lentamente transportando um pedaço de vela acesa, pregada em suas costas.
Um presente divino ler essas memórias! Sou neta de Erotides Rebello Vital - Vital Anunciação, depois de casada, filha de Carminha (Maria do Carmo), e começo a acreditar que minhas pesquisas para chegar até aqui não foram "obra do acaso" ... graças a Deus! Gratidão por me dar um pouco do espírito de nossa família...
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