O BOI BUMBÁ QUE “DANÇOU”
Edson Vital de Mendonça, meu irmão, era uma pessoa extremamente alegre, brincalhão, gozador e hábil em aplicar “peças”. Pretendendo resgatar as histórias por ele contadas ou vividas, convido familiares e amigos, que ouviam e se deliciavam com suas histórias, a enviar-nos aquelas de que recordam para condensarmos neste blog. A redação deve ser simples pois mais importante que a forma, será o registro que vamos reunir.
Inicialmente, vou contar uma das peripécias dele:
O BOI BUMBÁ – Ainda criança, dez ou doze anos, ele sonhava em dançar num boi bumbá, entre tantos que se formavam durantes as festas juninas, na nossa pequena e saudosa Itacoatiara, no Amazonas. Ele morava no limite dos bairros de Jauary e da Colônia, quase no centro da cidade. Havia diferenças sociais entre os moradores e até uma certa disputa bairrista. Teve facilidade em se deslocar até à Colônia para pedir participação entre os brincantes do Boi do Carlinho, garoto um pouco mais novo que ele, o dono do boi que reunia várias crianças do porte dele. Rejeitado em princípio, insistiu em ser qualquer figurante, fosse o Amo, Vaqueiro, Pai Francisco, o caçador, ou Zé Bumbá ou, até, a caricata Catirina com seu filho, o boneco de pano ao colo, contanto que não ficasse de fora dessa sonhada festa . Carlinho, desconfiado, mas sabendo que o grupo estava incompleto, resolveu submeter a proposta levando-o á presença de sua mãe, a financiadora e última palavra. Da. Ciléia olhou para o Edson, visualizando-o cismadamente de cima para baixo, e, lembrando tratar-se de menino danado, disse logo: -- esse moleque jamais pode fazer parte do nosso boi. O desespero tomou conta do Edson que, de pronto, recorreu a ela fazendo crer na sua disposição de dar o melhor de si para o êxito da festa. A negativa persistia tanto quanto o apelo dramático do Edson. Com certo desprezo, ela aquiesceu sob condição, só se for pra dançar debaixo do boi. Simulando alegria ele aceitou de imediato aquilo que o acabrunhava, pois tinha que dançar, sem camisa e de short, afastando-o do brilho que sonhava de uma fantasia em cores, chapéus e blusas enfeitadas de fitas e de espelhos que cintilavam à luz das chamas das fogueiras. Assim, teve que se submeter a alguns ensaios onde pode examinar cuidadosamente o terreiro onde o boi iria dançar, beirando um barranco de mais de 10 metros de altura, oferecendo algum risco aos participantes descuidados. Chegou o grande dia. Os vaqueiros entraram em duas filas, cantando as músicas de apresentação e batendo seus pequenos tacos de madeira marcando o ritmo. Fogos de artifício eram lançados e um grande público aplaudia a criançada que cantava e dançava. Em seguida, entraram os demais figurantes e, por último, lá vem o boi com toda a sua fúria, pulando e rodopiando esfuziantemente, enquanto o Edson, escondido debaixo do boi, em sua, para ele humilhante tarefa, privado de ver e participar de toda a beleza visual, sem fantasia e ignorado pelo público, não teve dúvida, aproximou-se do barranco, lançou o boi ribanceira abaixo e tratou de sumir rapidamente da festa que acabara de acabar
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