sábado, 4 de junho de 2016

O Boi Bumbá que "dançou"


O BOI BUMBÁ QUE “DANÇOU”
Edson Vital de Mendonça, meu irmão, era uma pessoa extremamente alegre, brincalhão, gozador e hábil em aplicar “peças”.   Pretendendo resgatar as histórias por ele contadas ou vividas, convido  familiares e amigos, que ouviam e se deliciavam com  suas histórias, a  enviar-nos  aquelas  de que recordam para condensarmos neste blog.  A redação  deve ser simples pois mais importante que a forma, será o registro  que vamos reunir. 

Inicialmente, vou contar uma das peripécias dele:

O BOI BUMBÁ – Ainda criança, dez ou doze anos, ele sonhava em dançar num boi bumbá, entre tantos que se formavam durantes as festas juninas, na nossa pequena e saudosa Itacoatiara, no Amazonas.  Ele morava no limite dos bairros de Jauary e da Colônia, quase no centro da cidade.  Havia diferenças sociais entre os moradores  e até uma certa disputa  bairrista.  Teve facilidade em se deslocar até à Colônia para pedir participação entre os brincantes do Boi do Carlinho, garoto um pouco mais novo que ele, o dono do boi que reunia várias crianças do porte dele.  Rejeitado em princípio, insistiu em ser qualquer figurante, fosse o Amo, Vaqueiro, Pai Francisco,  o caçador, ou Zé Bumbá  ou, até,  a caricata Catirina com seu filho, o boneco de pano ao colo, contanto que não ficasse de fora dessa sonhada festa .  Carlinho, desconfiado, mas sabendo que o grupo estava incompleto, resolveu submeter a proposta levando-o á presença de sua mãe, a financiadora e última palavra.  Da. Ciléia olhou para o Edson, visualizando-o cismadamente de cima para baixo,  e, lembrando tratar-se de menino danado, disse logo: -- esse moleque jamais pode fazer parte do nosso boi.  O desespero tomou conta do Edson que, de pronto, recorreu a ela fazendo crer na sua disposição de dar o melhor de si para o êxito da festa.  A negativa persistia tanto quanto o apelo dramático do Edson.  Com certo desprezo, ela aquiesceu sob condição,  só se for pra dançar debaixo do boi.  Simulando alegria ele aceitou de imediato aquilo que o acabrunhava, pois tinha que dançar,  sem camisa e de short, afastando-o do brilho que sonhava  de uma fantasia em cores, chapéus e blusas enfeitadas de fitas e de espelhos que cintilavam à luz das chamas das fogueiras.  Assim, teve que se submeter a alguns ensaios onde pode examinar cuidadosamente o terreiro onde o boi iria dançar, beirando um barranco de mais de 10 metros de altura, oferecendo algum risco aos participantes descuidados.  Chegou o grande dia.  Os vaqueiros entraram em duas filas, cantando as músicas de apresentação e batendo seus pequenos tacos de madeira marcando o ritmo.  Fogos de artifício eram lançados e um grande público aplaudia a criançada que cantava e dançava.  Em seguida, entraram os demais figurantes e, por último, lá vem o boi com toda a sua fúria, pulando e rodopiando esfuziantemente, enquanto o  Edson,  escondido debaixo do boi, em sua, para ele  humilhante tarefa,  privado de ver e participar de toda a beleza visual, sem  fantasia e ignorado pelo público,  não teve dúvida, aproximou-se do barranco, lançou o boi ribanceira abaixo e tratou de sumir rapidamente  da festa que acabara de acabar

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